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quarta-feira, 1 de junho de 2011
A Sociedade Portuguesa de Naturalogia visitou a Casa da Caldeira
Pamposto
Desta vez, o tradicional encontro de fim-de-semana, organizado pela Sociedade Portuguesa de Naturalogia, decorreu na região das Serra d’ Aire e Candeeiros. Os 19 convivas pernoitaram nas instalações da Casa da Caldeira (Correias – Rio Maior) do nosso amigo e diretor da Agrobio, Dr. Virgílio Pestana, que nos recebeu principescamente. Quer o sábado, quer o domingo, foram preenchidos com visitas a locais históricos, paisagísticos, etnográficos e ecológicos dos concelhos de Alcanena e de Rio Maior, onde vimos e aprendemos coisas deveras interessantes.
No domínio da gastronomia, para além dos acepipes de produção biológica apresentados pelo amigo Virgílio e sua esposa, a minha curiosidade pousou na descrição da Sopa de Pampostos, prato tradicional da freguesia de Arruda de Pisões.
Ora o que são pampostos? Nada mais, nada menos do que ervas campestres que vegetam espontaneamente nos prados húmidos e terrenos encharcados da região. Pois tais ervas são comestíveis, tal como outras plantinhas silvestres que temos abordado. Numa altura em que nos deparamos com mais de um milhão de hectares de terras de cultivo abandonadas, após a entrada de Portugal na União Europeia e enquanto não se volta à agricultura, a meu ver inevitável e desejável, mais não nos resta do que regressar à atividade recolectora dos tempos primitivos. Quiçá, teremos de andar à cata de alimentos naturais para prover a nossa subsistência alimentar e, nesta matéria, os saberes ancestrais do nosso povo revelam-se assaz preciosos.
O pamposto, segundo o livrinho “Nomes Vulgares de Algumas Infestantes e Respetivos Nomes Botânicos” de Fátima Rocha, editado em 1979 pelo Ministério da Agricultura, é também conhecido por margaça-de-inverno ou margaça-fusca. Trata-se de uma composta cujo nome científico é Chamaemelum fuscatum (classificação dada pelo ilustre botânico português, Brotero). Também aparece, para a mesma planta, a designação Anthemis fuscata. É, pois, uma vulgaríssima margaça, cuja espécie medicinal mais conhecida é a Chamaemelum nobile L que, tal como a camomila, possui propriedades tónicas, estimulantes, antiespasmódicas e emenagogas. As folhas podem ser usadas externamente em cataplasma, como analgésico (nevralgias e dores de cabeça).
Estou convencido de que o pamposto tem idênticas propriedades medicinais, dado que possui o mesmo óleo essencial, mencionado nos “Elementos da Flora Aromática” de Aloísio Fernandes Costa (edição de 1975). A maior diferença que se verifica em relação à nobile é que se trata de uma erva com folhas mais suculentas e daí o seu aproveitamento na culinária popular.
Podemos caracterizar o pamposto como herbácea anual, oriunda da região mediterrânica ocidental, de 5 a 30 cm de altura, sem pelos, pouco ramificada e de ramos ascendentes. As folhas, de verde-escuro, são alternas, muito recortadas e com lóbulos lineares. As flores marginais são liguladas. As pétalas são brancas e o disco central é amarelo vivo com inflorescências hermafroditas e tubulosas. As brácteas involucrais apresentam-se ovadas, de cor castanha. Os frutos formam aquénios. Os ingleses chamam-na “dog fennel” que, à letra, significa funcho canino, uma vez que a folhagem, sendo diferente, faz lembrar a do funcho. Por sua vez, os espanhóis apelidam-na de “mazanilla fina”, talvez pela sua vivacidade, já que brota em zonas húmidas com floração durante vários meses.
Com a devida vénia, vou então transcrever o que vem no livro “As Receitas de Rio Maior”, no que à citada erva diz respeito:
Sopa de pampostos com feijão seco e arroz
Ingredientes: pampostos, feijão, cebola, azeite, arroz, sal.
Arranjam-se os pampostos como qualquer outro legume verde, lavam-se e cozem-se em água. Escorrem-se e amassam-se para retirar o excesso de líquido. Passam-se ainda por duas águas para lhe diminuir o amargo. Deve-se ter em atenção a quantidade de pampostos colhidos, uma vez que reduzem em muito com a cozedura. Coze-se o feijão e junta-se-lhe a bolinha de pampostos. Ferve-se tudo com cebola picada, azeite e sal. Quando levantar fervura põem-se uns bagos de arroz a cozer.
E pronto, eis uma receita simples e saudável, adequada aos tempos de penúria que se avizinham. Ou será que estou a exagerar?
Miguel Boieiro
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Que interessante, Ana! Um dia destes vou experimentar a sopa de margaça, espero que não haja nenhuma variedade excessivamente toxica... eheheh!...
ResponderEliminarUm beijo
Depois combinamos e experimentamos as duas... uma pequena dose.
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