Quem somos

sábado, 6 de abril de 2013


Os Viajantes



Nesta fase da vida, apetece-me estar no meu canto. Agrada-me uma certa rotina. Faz-me falta a minha ”zona de conforto”, como agora se diz, um lugar perto da janela, onde possa ler um livro, tomar o meu chá ou um bom copo de vinho e olhar de vez em quando através dos vidros, para observar as mutações do cenário ou as brincadeiras domésticas dos gatos e dos passarinhos.

Se o tempo deixar, saio, sento-me no quintal, vagueio pelos campos em redor, faço jardinagem, respiro o ar puro, aconchego-me à sombra das árvores. Fecho os olhos e deixo-me envolver no abraço revigorante dessa entidade suprema, que me transcende e da qual também faço parte – a Natureza, na sua multiplicidade de cores e de sons, dinâmica como um mar encapelado ou um céu por onde correm nuvens.

Noutros tempos, gostava de me aventurar por longínquas paragens. O desejo de evasão era mais forte e superava a ansiedade que me poderia assaltar, quando no outro prato da balança estivesse o bem-estar, a segurança ou a previsibilidade do meu dia-a-dia.

Talvez por me sentir actualmente, mais propensa ao sedentarismo, mais presa a hábitos e a espaços com os quais me identifico, me sinta fascinada, quando conheço alguém capaz de se lançar à aventura por esse mundo fora, disponível para viver a vida, tal como ela lhe surja ao virar da esquina, sem excessivas preocupações com o dia de amanhã- “free as a bird”.

Masha e Martin são como as aves – são jovens, descontraídos, sem ambições pretensiosas, criativos. E adaptam-se aos lugares que vão habitando. Curiosos, apreciam o que se esconde para lá do óbvio, procuram mergulhar na essência das coisas.

Estes novos amigos e a sua filhinha Kettie, vêm de longe e ficarão algum tempo entre nós, na Casa da Caldeira.  São artistas plásticos – ele alemão e ela ucraniana – transformaram a  adega no seu atelier temporário, um espaço de criação, onde além de desenhar e pintar, o Martin toca violino.

 Reconhecidos pelo acolhimento que lhes fizemos, irão decorar uma das paredes com um fresco alusivo à vida no campo. Será talvez um mural festivo, a lembrar o trabalho na terra, o dinamismo da vida rural, a alegria da preparação e da partilha da comida em torno de uma grande mesa, a celebração no fim de uma tarefa…

Tal como eles, o sol chegou, de surpresa. Entrou-nos em casa logo pela manhã e bateu nos vidros, como um viajante há demasiado tempo ausente deste poiso. Encheu de luz o meu canto atrás da janela e espalhou-se pelo jardim. Deu mais cor às flores, acordou os pássaros,  tornou os verdes mais brilhantes e alegrou-me a alma.

É tempo de sair e aventurar-me num passeio curto. No entanto, vou estar atenta a tudo o que me rodeia  - ver para além do óbvio.