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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

WORKSHOP: PLANTAS AROMÁTICAS E MEDICINAIS

Venha passar um dia diferente no campo e aprender, com um Professor experimentado, a plantar, multiplicar, colher secar e utilizar muitas das plantas que tantas vezes nos surgem no caminho, sem que nos apercebamos do seu valor e utilidade.

No próximo dia 22 de Outubro, Sábado, entre as 10h00 e as 18h00, irá decorrer na Casa da Caldeira, um Workshop sobre Plantas Aromáticas e Medicinais.

A Formação incluirá um almoço, preparado com algumas das plantas que irão ser objecto de estudo.

Quem quiser poderá pernoitar na Casa da Caldeira e passar um fim de semana agradável.

O preço da Formação, incluindo o almoço, é de 40,00€.
As marcações terão de ser feitas até ao dia 19 de Outubro para os seguintes contactos:
969655521 ou 969655518 ou através do endereço mail: casadacaldeira@gmail.com

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

UM NOVO RECANTO NO JARDIM



É bom viver no campo! Sabe bem acordar com a passarada, brincando ao desafio, por entre a folhagem das árvores, num esvoaçar imparável, ao som de estridentes chilreios.
No Verão, é revigorante sair de manhãzinha por sendas escondidas, ladeadas de arbustos e silvados, carregados de amoras, ou deambular sob as copas de árvores centenárias: carvalhos, sobreiros ou azinheiras, com a folhagem a filtrar a luz do sol, retirando-lhe a intensidade ofuscante.
As tardes de verão convidam à sesta, sob a copa de uma grande árvore, cujos ramos formam regaços onde se aninham gatos felpudos e sonolentos.
É emocionante observar as andorinhas, ao fim da tarde, nos seus voos picados, sobre a superfície lisa da água. Ao vê-las, naquele exercício arriscado, ficamos na dúvida se pretendem apenas molhar o bico ou se se tratará de um ritual de iniciação, que as leva a ensaios repetidos, numa persistência que vulgarmente se considera apanágio dos homens.
Todos sabemos da beleza incomparável de um pôr-do-sol no campo, das tonalidades irrepetíveis - faixas difusas, multicolores a incendiarem a linha que delimita o azul dos montes ou do nascer de uma lua gigante, tela luminosa, onde se projectam as sombras dos pinheiros mansos e das pedras que coroam os montes em redor.
Sabe tão bem transpor a porta para o jardim a cada manhã e sentir o ar puro, por vezes cortante, no Inverno, deixar correr o olhar em volta, aspirar os diferentes aromas que enchem o espaço: a alfazema, a tília, a lúcia- lima…, passar os dedos pelos vasos coroados por fofas cabeleiras de alecrim ou de manjericão.
No entanto, o cenário de que nos rodeamos leva tempo a construir, não surge do nada.
A Natureza é teimosa. Se as ervas daninhas se apoderam de um determinado espaço, precisamos da tal persistência das andorinhas para as erradicarmos do nosso precioso jardim, sobretudo quando nos recusamos a recorrer a métodos radicais mas altamente nocivos, como é o caso das mondas químicas. Resta-nos, então, uma grande dose de paciência e ir arrancando periodicamente esses espécimes cuja razão de existir desconhecemos. Muitas vezes encaro isso como um exercício de catarse, transpondo para as malditas ervas todas as minhas raivas e ódios de estimação, o que se traduz na força com que extraio as respectivas raízes. Mas basta chover durante um dia ou dois, para que o chão se cubra de novos e malfadados rebentos. Nesta insistente tarefa, fui fazendo várias tentativas, goradas, de criar um recanto ajardinado, numa zona que há muito tempo eu queria ver transformada.
Ora, este Verão, vi nascer a esperança de concretizar esse sonho.
No final do mês de Junho recebemos dois estagiários – o Manuel e o Tiago – alunos do Curso Profissional de Turismo e Ambiente da Escola Secundária de Ferreira do Zêzere, que estiveram aqui, na Casa da Caldeira, durante seis semanas. Ao propor-lhes esse projecto, mostraram dominar as técnicas da jardinagem, uma vez que possuíam formação anterior adequada. Transmiti-lhes então o que pretendia, forneci-lhes as plantas e dei-lhes liberdade para executarem a tarefa, desde que não fugissem daquilo que eu idealizara.
Comprámos o material necessário – plástico preto para isolar o terreno e evitar o crescimento das ervas daninhas e casca de pinheiro para cobrir o chão. Depois, foi vê-los trabalhar com entusiasmo, usando as enxadas os sachos e as pás. De vez em quando ía observar o que faziam, ansiosa por ver o trabalho acabado e registei as imagens do antes e do depois.
Estou muito contente com o meu recanto, que veio valorizar o espaço exterior da nossa casa e hoje, aqui deixo o testemunho da minha satisfação e o reconhecimento de que foi graças ao Manuel e ao Tiago, ao seu trabalho e à sua criatividade, que concretizei esse projecto. De vez em quando há uma ou outra erva daninha que, teimosamente, consegue romper o plástico, mas ando sempre atenta e apresso-me a arrancá-las.
Havendo agora poucas ervas para arrancar, terei é de arranjar uma outra forma de canalizar os meus impulsos negativos.

A.Braga





domingo, 11 de setembro de 2011

Odete e Beatriz



São cerca de 9 horas da manhã. Ao cimo da rua, numa curva apertada, junto de um casebre em ruínas, que a cada chuvada se degrada mais, fazendo-nos temer que algum dia possa desabar sobre um incauto transeunte, surgem duas figuras de mulher, de andar ligeiro e voz prazenteira. Ao longe, percebe-se pelo andar e pela postura, que embora já não sejam jovens, são pessoas dinâmicas e determinadas, senhoras de si e, em grande medida, donas do seu próprio destino.
Vestem batas leves por cima da roupa e cobrem a cabeça, seja Verão ou Inverno, com chapéus brancos, de pano, versão moderna dos antigos lenços, presumo, uma vez que raramente deixam as cabeças a descoberto, mesmo quando estão a trabalhar dentro de casa. Se encontram alguém no caminho param, cumprimentam, inteiram-se da saúde ou do andamento da vida dos outros, solidarizam-se com as vizinhas nos pequenos ou grandes azares que se atravessam nas suas rotinas, comentam, sem intenção de se intrometerem nos assuntos alheios, que a sua longa experiência de vida, o bom senso e algum desaire no passado as ensinou a ser discretas, agindo com uma inteligência que faria inveja a muito cidadão letrado. Sim, porque, como não se cansam de repetir, “o diabo sabe muito, não por ser diabo, mas por ser velho”.
E assim, conversadoras e sorridentes, vão-se chegando ao velho portão verde, cujas manias e segredos conhecem melhor do que ninguém. ”Abre-te sésamo”, e ele abre-se, não para lhes dar acesso à célebre caverna do Ali Baba, resplandecente de tesouros, mas para entrarem no espaço onde irão passar o dia a trabalhar, esforçadas e pressurosas. Para entrar no “seu mundo”.
Odete e Beatriz, são estes os seus nomes, trabalham connosco na Casa da Caldeira há já muitos anos e posso dizer que a sua colaboração se tem revelado inestimável. São pessoas de confiança e tão próximas de nós como se fossem da família. Embora já tenham ultrapassado a casa dos sessenta, revelam uma energia invejável, que milagrosamente, apesar dos achaques, se renova a cada dia, e que as leva a transpor diariamente aquele portão com um sorriso rasgado, uma disponibilidade sincera, qualquer que seja a tarefa que as espera e um optimismo contagiante, que muitas vezes nos vem animar, mesmo naqueles dias em que há nuvens mais escuras a turvar a transparência dos nossos horizontes. São mulheres de fibra, criadas na aldeia, pertencentes a uma geração pouco escolarizada, que desde cedo se viu obrigada a trabalhar no campo e a enfrentar todas as adversidades, mas com uma sabedoria que herdaram das mães e das avós, sempre conscientes do papel que um dia as esperaria na família que viessem a constituir – um esteio forte e seguro, o centro de decisão da casa.
Estas senhoras encaram qualquer trabalho com a mesma garra: é preciso sachar as hortas, descascar fruta, tratar um animal que adoeceu de repente, amassar o pão e cozê-lo num bom forno de lenha, cuidar das flores com o desvelo e a atenção que as flores merecem, fazer panelões de compota, coser a bainha de umas calças em tempo record, preparar um arroz de cabidela para trinta pessoas? Aí estão elas, preparadas para entrar em acção e capazes de se organizar sem entrar em pânico!
Parecidas na indumentária, na capacidade de trabalho, na disponibilidade e na forma simpática e educada como comunicam, contudo são diferentes na maneira de ser. Talvez por isso se completem tão bem, formando uma equipa única, imprescindível à Casa da Caldeira.