Nesta região do Ribatejo,
onde para percorrer qualquer distância temos de
galgar montes e vales, olivais e sobrais acompanham o nosso
trajecto, com as suas velhas árvores
retorcidas e nodosas, cuja idade avançada lhes confere, não um ar frágil e debilitado,
mas sim uma força e uma energia mais próprias da juventude.
Ora, não longe da Casa da
Caldeira, a caminho do Outeiro da Cortiçada, existe um olival mágico. Quase à
beira da estrada, entre uma curva e outra, não
passa despercebido aquele recanto, animado de curiosas esculturas, a
quebrar a austeridade dos troncos e dos ramos das árvores, conferindo àquele
espaço uma nota colorida e bem humorada. A curiosidade leva-nos, então, a fazer
um pequeno desvio, para observarmos de perto esse cortejo animado de
personagens esculpidas na madeira.
O seu autor, José Costa, é
um artista autodidacta, cheio de sensibilidade e talento, oriundo de um pequeno
lugar da freguesia. Bem cedo rumou a Lisboa, em busca de um modo de vida.
Durante anos foi empregado de mesa numa conhecida cervejaria de Lisboa (quantas
vezes me devo ter cruzado com ele nos idos anos 70?) apesar do corropio de servir copos e aturar clientes ainda
lhe sobrava energia para responder ao apelo do seu impulso artístico, segundo
ele, "um dom com que nasceu".
Sempre que podia, vinha até
à sua aldeia e calcorreava os bosques, na mira de descobrir as raízes e os
troncos que mais se adequavam às esculturas que tinha em mente. Com amor,
persistência e um invulgar talento, foi dominando a arte de esculpir a madeira,
dando-lhe a forma de gente, de animal manso ou feroz, de objecto inerte ou de
planta viva. No exterior, tem as esculturas, segundo ele, de menor valor, apenas
para animar quem passa, mas infelizmente com uma esperança de vida curta, visto
estarem ali, à mercê do sol, do vento e da chuva. É enriquecedor e divertido
fazer uma visita guiada com o autor, pois cada uma das suas obras e algumas
delas, em conjunto, escondem um significado que só ele nos pode traduzir. De
conhecidos politicos da nossa praça, muito expressivos, a figuras bíblicas ou
tradicionais, temos ali de tudo.
Do outro lado da rua fica a
sua casa, onde agora, depois de reformado, passa parte da semana. Convida-nos a
entrar e é com um brilho nos olhos, que nos vai mostrando a sua oficina e explicando
os seus projectos nas diversas fases em que se encontram.
E por último, quando
julgávamos que já estava tudo visto, eis
que nos espera uma sala, que ele abre, como quem nos revela um segredo bem
guardado. Lá dentro estão as esculturas mais elaboradas e de madeiras de melhor
qualidade. Ali estão expostas peças de arte sacra, divindades, pássaros de
porte delicado, personagens da História e da Literatura, figuras simbólicas. A
madeira polida é macia e foi trabalhada com delicadeza. É então que ficamos a
saber que este artista tem participado em inúmeras exposições e é
constantemente convidado a participar em mostras e certames por todo o país e
também no estrangeiro. No entanto, o Sr. José Costa é uma pessoa modesta,
simples, que gosta do que faz, que
encara o seu talento como a coisa mais natural do mundo e que se sente feliz
por partilhar com os outros o resultado daquele dom com que nasceu.
Sem comentários:
Enviar um comentário