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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

UM NOVO RECANTO NO JARDIM



É bom viver no campo! Sabe bem acordar com a passarada, brincando ao desafio, por entre a folhagem das árvores, num esvoaçar imparável, ao som de estridentes chilreios.
No Verão, é revigorante sair de manhãzinha por sendas escondidas, ladeadas de arbustos e silvados, carregados de amoras, ou deambular sob as copas de árvores centenárias: carvalhos, sobreiros ou azinheiras, com a folhagem a filtrar a luz do sol, retirando-lhe a intensidade ofuscante.
As tardes de verão convidam à sesta, sob a copa de uma grande árvore, cujos ramos formam regaços onde se aninham gatos felpudos e sonolentos.
É emocionante observar as andorinhas, ao fim da tarde, nos seus voos picados, sobre a superfície lisa da água. Ao vê-las, naquele exercício arriscado, ficamos na dúvida se pretendem apenas molhar o bico ou se se tratará de um ritual de iniciação, que as leva a ensaios repetidos, numa persistência que vulgarmente se considera apanágio dos homens.
Todos sabemos da beleza incomparável de um pôr-do-sol no campo, das tonalidades irrepetíveis - faixas difusas, multicolores a incendiarem a linha que delimita o azul dos montes ou do nascer de uma lua gigante, tela luminosa, onde se projectam as sombras dos pinheiros mansos e das pedras que coroam os montes em redor.
Sabe tão bem transpor a porta para o jardim a cada manhã e sentir o ar puro, por vezes cortante, no Inverno, deixar correr o olhar em volta, aspirar os diferentes aromas que enchem o espaço: a alfazema, a tília, a lúcia- lima…, passar os dedos pelos vasos coroados por fofas cabeleiras de alecrim ou de manjericão.
No entanto, o cenário de que nos rodeamos leva tempo a construir, não surge do nada.
A Natureza é teimosa. Se as ervas daninhas se apoderam de um determinado espaço, precisamos da tal persistência das andorinhas para as erradicarmos do nosso precioso jardim, sobretudo quando nos recusamos a recorrer a métodos radicais mas altamente nocivos, como é o caso das mondas químicas. Resta-nos, então, uma grande dose de paciência e ir arrancando periodicamente esses espécimes cuja razão de existir desconhecemos. Muitas vezes encaro isso como um exercício de catarse, transpondo para as malditas ervas todas as minhas raivas e ódios de estimação, o que se traduz na força com que extraio as respectivas raízes. Mas basta chover durante um dia ou dois, para que o chão se cubra de novos e malfadados rebentos. Nesta insistente tarefa, fui fazendo várias tentativas, goradas, de criar um recanto ajardinado, numa zona que há muito tempo eu queria ver transformada.
Ora, este Verão, vi nascer a esperança de concretizar esse sonho.
No final do mês de Junho recebemos dois estagiários – o Manuel e o Tiago – alunos do Curso Profissional de Turismo e Ambiente da Escola Secundária de Ferreira do Zêzere, que estiveram aqui, na Casa da Caldeira, durante seis semanas. Ao propor-lhes esse projecto, mostraram dominar as técnicas da jardinagem, uma vez que possuíam formação anterior adequada. Transmiti-lhes então o que pretendia, forneci-lhes as plantas e dei-lhes liberdade para executarem a tarefa, desde que não fugissem daquilo que eu idealizara.
Comprámos o material necessário – plástico preto para isolar o terreno e evitar o crescimento das ervas daninhas e casca de pinheiro para cobrir o chão. Depois, foi vê-los trabalhar com entusiasmo, usando as enxadas os sachos e as pás. De vez em quando ía observar o que faziam, ansiosa por ver o trabalho acabado e registei as imagens do antes e do depois.
Estou muito contente com o meu recanto, que veio valorizar o espaço exterior da nossa casa e hoje, aqui deixo o testemunho da minha satisfação e o reconhecimento de que foi graças ao Manuel e ao Tiago, ao seu trabalho e à sua criatividade, que concretizei esse projecto. De vez em quando há uma ou outra erva daninha que, teimosamente, consegue romper o plástico, mas ando sempre atenta e apresso-me a arrancá-las.
Havendo agora poucas ervas para arrancar, terei é de arranjar uma outra forma de canalizar os meus impulsos negativos.

A.Braga





1 comentário:

  1. passei por aqui, como faço às vezes, mas desta quero dizer-vos que gosto muito do vosso blog e que tenho saudades vossas. Beijos. Isabel alves

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