A chuva tomou-nos de assalto! De repente, sem avisar!
Trazia companhia a empurrá-la, um vento agreste, frio,
nada amistoso, que devia estar preso em algum lugar remoto e que agora se
soltou e vem esperneando como um cavalo selvagem.
O céu toldou-se e caiu sobre nós uma cortina opaca a encobrir a paisagem.
O céu toldou-se e caiu sobre nós uma cortina opaca a encobrir a paisagem.
Para mim é sempre triste o
regresso do Outono, sobretudo quando ele me entra assim pela porta dentro, sem
aviso prévio. Confesso que não estava preparada e invadiu-me uma nostalgia do
Verão que se foi, numa despedida “à francesa”.
Já tenho saudades do sol e do
calor, das manhãs luminosas povoadas de bandos de pássaros chilreantes, das
tardes em que procuramos as sombras das árvores, agora tão fustigadas pelo
vento, ou do por do sol fulgurante, a pintar os montes de cores irreais.
moderadas, sem fazer grandes estragos. Não falo só dos estragos que causa nos nossos estados de alma, esses tratam-se bem, com um chá quente, uma roupa mais aconchegante, uma boa leitura, uma companhia agradável…
O problema mais grave são os malefícios que tal mudança tão repentina pode causar, por exemplo à agricultura, uma questão pouco perceptível para aqueles que vivem na cidade, para quem a chuva é apenas uma grande maçada - porque ficam encharcados se saem à rua, sem guarda chuva, ou porque o trânsito pára, ou porque os bueiros entopem.
No campo, os prejuízos são
diferentes. Os produtos que ainda estavam na horta, a amadurecer - como os
tomates -, ou as frutas nos pomares - como
os figos -, perdem-se de vez. As nozes já colhidas e libertas das suas capas
verdes, se não secam devidamente, ficam
com bolor, as uvas, que não foram ainda apanhadas, apodrecem nas cepas.
Na Casa da Caldeira, transformamos
produtos hortícolas e frutas, fazendo compotas e patés de forma artesanal. O
Outono é, por esse motivo, uma época de grande azáfama e de preocupações,
relacionadas com o tempo atmosférico e com as “partidas” que ele nos pode pregar e,
claro, com a qualidade dos produtos que preparamos.
Alguns dos produtos já foram
confeccionados e devidamente embalados, como o doce de tomate, o tomate seco ao
sol ou o paté de tomate. Mas muito há ainda por fazer. Os trabalhos não param e penso
muitas vezes: “Será que as pessoas, quando pegam num frasco
de doce ou de paté,
consultam o preço e ponderam se o hão-de levar ou não, imaginam todo o trabalho,
amor e empenho que ali está encerrado?”
Sem todos vós, Beatriz, Odete, Luís, Joaquim e Albertino, a Casa da Caldeira não seria o que é.